sexta-feira, 2 de agosto de 2013


Por Vanessa Matos

Na última visita, como acontecerá nas próximas, os esforços da disciplina estão no sentido de documentar a memória de Acupe a partir do ponto de vista de pessoas que vivenciam o lugar. Os relatos desses sujeitos, portanto, compreendem as circunstâncias econômicas, políticas e sociais nas quais se inserem naquele território.

Foram quatros encontros agendados naquela semana: um pescador aposentado, o simpático “Gordão”, uma funcionária recém-saída da E. E. Castro Alves, a alegre Maria Gersonilda, uma moradora antiga do lugar e o dono de um armazém que possui pequena coleção de artefatos da época do engenho.  O primeiro depoimento conseguido, no entanto, não estava na ordem do dia: Sr. Antônio, cuja imagem ele próprio afirma já ter sido exibida no mundo todo, é um antigo morador do morro Alto do Cruzeiro.  Homem simples, de estatura média e poucas palavras, aparentava ter entre setenta e oitenta anos,  contou que foi um dos primeiros moradores daquele local.

Com base em seu depoimento e nas próprias condições do local, nota-se que os primeiros habitantes do Morro Alto do Cruzeiro vieram de cidades vizinhas ou de outros distritos de Santo Amaro, principalmente pescadores e marisqueiras em busca de trabalho. Parte do relevo foi modificado na construção de casas e, até então, não recebeu nenhuma atenção da prefeitura tanto no sentido de infraestrutura quanto na conscientização e preservação por parte dos moradores em relação ao ambiente natural. Infelizmente, tive que me contentar com uma breve vista do mangue e da Baía de todos os Santos, pois meu sapato não estava adequado à caminhada pela terra íngreme.

No meio tempo, consegui algumas respostas a mais com o ativo senhor. Ele viera à Acupe há cinquenta anos para trabalhar. Nascera e fora criado em Saubara e entre uma atividade e outra, acabou formando família no distrito da Acupe, mas diz que pretende deixar a casa para o filho e voltar à cidade natal, onde tem irmã, outros filhos e netos. Apesar da idade já pesar em suas feições, ele se recusa a sentar um minuto e mesmo que não vá mais à pescaria com frequência, não descansa em casa, na ânsia de ter algo no que se ocupar. Após a conversa com Sr. Antônio, o restante da equipe se dirigiu ao alto do cruzeiro, de onde é possível avistar a cidade de Salvador.

 Com base na descrição dos colegas, na gravação, Maria Gersonilda falou sobre as dificuldades do distrito: há 15 anos Acupe tenta a emancipação, mas a sede não permite, segundo a entrevistada, porque depende dos subsídios de alimentação e impostos do distrito. Há uma mentalidade coletiva relativamente coesa sobre o fato. Não há investimentos em infraestrutura no lugar, como agência de correios e bancos, ou mesmo postos de saúde minimamente equipado, o que acirra a disputa. Contudo, a consciência que alimenta o sentimento de pertencimento àquela terra reforça as relações de identidade a ponto dos moradores não se reconhecerem “santo-amarenses”.

Descemos ao porto, a maré estava baixa. Como pescador aposentado, Gordão, que falou basicamente acerca de assunto sobre a economia da pesca. O que se percebe é que a pescaria é um ofício que permite levar uma vida segura, afinal ele mesmo sustentou quatro filhos com o trabalho, no entanto, os pescadores carecem de mais orientação sobre administração do orçamento familiar. O governo paga R$ 600,00 a cada seis meses, no período de reprodução dos peixes, pois a pesca é proibida nessas ocasiões e o Banco do Nordeste oferece empréstimos para a troca das canoas de madeira de lei por barcos de fibra de vidro e com motor. (O IBAMA está envolvido na ação, proibindo a derrubada aleatória de árvores). Contudo, são ações pouco eficazes em longo prazo, porque são isoladas. Segundo ele, o pescador consegue até R$ 100,00 por dia de trabalhado, porém poucos sabem investir parte dessa renda em benefício do próprio trabalho. O resultado são os crescentes gastos com bebidas nos bares que aumentam, em número, por todo o distrito e principalmente próximo ao porto.  

De maneira geral, os três entrevistados manifestaram algum tipo de esperança com a chegada de novos moradores em Acupe. Os turistas se identificam com a tranquilidade e beleza do local a ponto de decidir comprar ou construir casa ali, outros resolvem prestar assistência à população (o caso de uma Italiana que financiou a construção de uma creche). Parece que essas pessoas veem o valor simbólico do local e isso motiva os conterrâneos a continuarem sonhando e fazendo suas partes para um amanhã melhor.

LUCIANA SOUZA DOS SANTOS

Segunda visita a Acupe

 

No dia 28 de junho de 2013, a turma do ACC - Atividade Complementar em Comunidade – fez sua segunda visita ao distrito de Acupe, Santo Amaro.

O dia foi destinado a entrevistas com três moradores do local. O primeiro entrevistado foi o senhor Antônio, que nasceu em Saubara, mas se mudou para Acupe há muitos anos atrás e por lá formou uma nova família.

Seu Antônio é pescador e agricultor, pessoa simples e de enorme dignidade. Não se sentiu acanhado em nenhum momento durante a entrevista, muito pelo contrario, afirmou já ter participado de projetos como o realizado pelo ACC em outras ocasiões.

Quando a entrevista com o seu Antônio acabou, a turma se aventurou a subir no Morro do Cruzeiro, ponto mais alto de Acupe. Do local é possível ver todo o distrito e também a cidade do Salvador. E foi no Morro do Cruzeiro que aconteceu a entrevista com Dona Maria, uma mulher muito atenta aos problemas sociais e políticos de Acupe.

Para Dona Maria, os problemas de Acupe só iram melhorar a partir do momento que as pessoas adquiram consciência dos seus direitos e começarem a lutare por eles. Ressaltou as dificuldades encontradas nas áreas de educação e saúde. Mas a conversa não ficou só nesse ponto, Dona Maria denunciou os abusos que as marisqueiras sofrem. Para ela, é necessário que o sindicato que regulamenta essa profissão fiscalize e der a essas mulheres subsídios necessários para exercer a função.

Em contra partida, o terceiro entrevistado teve uma visão progressista de Acupe. Para Derivaldo, vulgo Gordão, o distrito é rodeado de riquezas naturais que possibilitaria a implantação de grandes empresas, que em um futuro próximo levaria o distrito de Acupe para outro patamar. Possibilitando assim, a tão sonhada emancipação que transformaria o distrito em um município independente.

A partir da segunda visita ao distrito de Acupe, foi possível identificar através das entrevistas com os moradores as tristes tradições das políticas culturais e sociais no Brasil. Traduzidas em três palavras: ausência, autoritarismo, instabilidade (Rubim 2012).

Ausências de políticas, identificadas principalmente na educação e saúde. No autoritarismo que visa através de uma estrutura social elitista privilegiar certos segmentos, e as instabilidades que podem ser traduzidas na falta de uma organização política mais permanente, os projetos que se iniciam e logo são descontinuados, a exemplo do hospital de Acupe e da subprefeitura.   

O distrito de Acupe ainda tem um grande caminho a seguir, é preciso paciência para enfrentar os problemas que virão e pessoas como Doma Maria e Gordão que acreditam no potencial do distrito.

 

 

Referencia Bibliográfica

 RUBIM, Antonio Albino Canelas; ROCHA Renata. Políticas Culturais. Salvador. EDUFBA, 2012.

 

UFBA

Aluna: Lizandra Santana

ACC- Memória audiovisual

Orientador: José Severino

 

Atividade em campo

Considerações sobre a 2ª visita à Acupe

 

No dia 28 de junho, ocorreu a 2ª visita de campo da ACC- Memória Audiovisual, coordenada pelo Professor José Severino, ao distrito de Acupe. Através da mediação do morador local, apelidado como “Gordão”, fomos atrás de relatos e informações que agregassem conhecimento à pesquisa.

Primeiramente, o Professor Severino, juntamente com o grupo de audiovisual, colheu um relato do Sr. Antônio, morador do distrito. O mesmo relatou sua história de vida, desde a vinda à localidade, até a construção de uma nova família, brincando no final da entrevista que já estava acostumado com as câmeras.

Logo após essa entrevista, o grupo subiu o morro, denominado “Morro do Cruzeiro”, no qual era possível observar toda a cidade. Do alto, podia-se ver o mangue em toda a sua extensão, até o mar, as ilhotas, um pedaço de Salvador, bem como as casas humildes, em sua maioria ainda no bloco sem reboco e as ruas sem asfalto.

Posicionados abaixo do Cruzeiro, o Professor Severino e a equipe conversaram com a Sra. Maria Gersonita  que logo de início perguntou o real objetivo da pesquisa e quais os benefícios para a população de Acupe. A resposta foi a de que o registro histórico e visual dos relatos colhidos serviriam para mostrar a realidade do distrito, e fazer com o que políticas públicas relacionadas a melhoria da educação, saúde e infraestrutura local fossem criadas.

Em seguida, a Sra. Maria, através do seu depoimento, denunciou o descaso dos governantes com a população da cidade, bem como a falta de investimentos em saúde e em educação. A Sra. Maria, moradora do distrito, falou também sobre a falta de reconhecimento das marisqueiras e pescadores locais, os abusos de poder e aproveitamento das condições simples em que vivem os habitantes, a falta de acompanhamento dos estudantes pelos pais, entre outras situações na qual o povo de Acupe vive diariamente.  Pra finalizar o bloco de entrevistas, “Gordão”, morador de Acupe, nos levou ao porto, e nos deu suas considerações sobre o distrito, prometendo nos ajudar o quanto fosse possível.

Por fim, na segunda visita à Acupe foi possível perceber mais de perto a realidade do povo de Acupe, que depende da pesca do caranguejo e marisco, e a relação direta de poder entre Acupe e Santo Amaro. Esse é um distrito riquíssimo de histórias, que realmente precisa de acompanhamento e melhorias em vários aspectos ligados às políticas públicas, para que a população tenha uma vida mais digna. 

 

 

Aluna: Lalesca Santos

 

VIAGEM ACUPE 28.06.2013

Acupe, localizada no recôncavo baiano, cidade pacata, onde uma das principais fontes de renda, se não a principal, é a produção de camarão e atividade pesqueira. Encontramos diversos viveiros para comercialização do camarão, uma produção lucrativa.  Conhecemos o Senhor Antônio, agricultor e pescador, residente em Acupe há muitos anos, considerado um dos mais antigos moradores da cidade, já sendo um centenário, mas com muita saúde e bastante à vontade para conversar com nossa equipe da ACC, nos contou que não tem vergonha de falar frente às câmeras, pois o mesmo já foi algumas vezes entrevistado.

Senhor Antônio mora a alguns metros de um dos pontos mais belos da cidade, chamado de Alto do Cruzeiro. Tendo uma ampla vista de toda a cidade e com uma paisagem belíssima do litoral.

Entre varias curiosidades que nos foi contadas, temos a de que o Governador João Durval foi o primeiro a construir um colégio em Acupe, uma coisa tão primordial para o desenvolvimento educacional da região. Dona Maria Gersenilda, residente da cidade,  que foi entrevistada ao fundo da bela vista do Alto do Cruzeiro, contou-nos também algumas fatos corriqueiros e expos seus pontos de vista, a partir de diferentes problemas enfrentados pela comunidade.  Sobre a precariedade da educação, Dona Gersenilda disse que os professores, devido a  sua grande importância, deveriam  ter mais atenção dos governantes, com salários mais dignos e melhores condições de trabalho. Relatando também o descaso na saúde pública da região, com alguns profissionais da área com despreparo e despesas de consulta com valores elevados.

Dona Maria Gercenilda que por muitos anos foi marisqueira nos revela as complicações que causadar pelos trabalhos na coleta dos frutos do mar, o grande esforço físico, problemas de inflamações nos ovários, e a fumaça de quando eles são fervidos, por longa exposição pode causar problemas, e entre outras inflamações por conta do contato direto e continuo. Mas deixa bem claro que nunca trocaria Acupe por nenhuma outra, “o povo é bastante carinhoso, atenciosos e dispostos a ajudar a conhecer o lugar. Acupe é um pedacinho do paraíso, não deixaria aqui por nada”.

Dona Maria relata das reuniões em que participou, com diretores e representantes regionais e do estado, sobre a falta de participação do governo em Acupe. Onde assunto como “Mar Vermelho” foi tratado sem a devida atenção, fato que Dona Gercenilda discordou da posição de muitos dos representantes dos órgãos competentes. Dona Maria demonstrou o apoio às manifestações que estavam acontecendo com em todo o Brasil, contando que gostaria de participar e o quanto seria importante esse tipo de demonstração de insatisfação em Acupe.

Estivemos também com Senhor Derivaldo (Gordão) que trabalhou por muito tempo como porteiro do Colégio Castro Alves, que está por dentro dos acontecimentos da cidade e apoia as causas sociais, e se mostrou bastante participativo conosco,  entre algumas conversas nos mostrou do alto do cruzeiro a localização dos viveiros de camarão, alguns clandestinos, outros sobre controles da Bahia Pesca, e alguns desativados, mas todos próximos ao litoral. Em entrevista com ele, fizemos filmagens no porto da cidade, local importantíssimo para a economia.

 

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